Capítulo 01 - Para Alcançar Uma Estrela.
~Continua~
Tinha asas de anjo e olhos diabólicos
Dançava como as fadas e brilhava mais que as estrelas
Iluminava sombras, purificava trevas...
Acorrentada a elas.
Dedilhando sonhos e compondo cores
Perdia-se por entre a magia
E forjando o seu mundo fantástico
Despertou
Num abismo que até então
Adormecia...
Inglaterra, 1678.
Era uma bela tarde como muitas outras quando as empregadas corriam desordenadas por aquele grandioso castelo. Talvez a tarde tão bonita servisse para disfarçar o desespero.
O pequeno Vèlklain tinha apenas quatro anos, sendo jovem demais para entender o motivo de tanto alvoroço. Mas de uma coisa ele sabia e ansiava: seu irmão, ou quem sabe irmã, daria boas vindas a este mundo dentro de alguns instantes.
O garoto era filho de Sir. Henrry Vèlklain, senhor de todas as terras de Vèlklain. Essas terras foram batizadas com esse nome por Sebastian Vèlklain, tataravô do tataravô de Henrry. Diziam as lendas que o lugar, cercado por colinas, era como uma porta para o inferno. Pois quando a escuridão noturna invadia aquela floresta, tudo parecia entrar em outra dimensão totalmente sombria e desesperadora. À noite, mesmo do quarto mais escondido do castelo era possível escutar as vozes e os gritos que vinham como rajadas de ventos ecoando daquela floresta. Até os mais valentes cavaleiros temiam esse tipo de coisa.
Henrry Vèlklain havia se casado há seis anos com Anna Triementh, com quem teve seu primeiro filho, o pequeno Lohan. Agora este aguardava o nascimento de seu irmão, igualmente filho de Anna e Henrry.
Não demorou muito para que uma das criadas notasse o menino, inquieto, parado em seu lugar ao lado da cômoda sem a menor idéia de onde ir.
- O jovem amo deseja passear no jardim? – perguntou a criada.
Lohan não respondeu, apenas acenou desordenadamente com a cabeça, de forma que tal gesto fora incapaz de satisfazer a pergunta da mulher que se mantinha a sua frente.
- Jasmine!! – chamava outra criada pelo nome da moça – A criança nasceu! Rápido, precisarei da sua ajuda!
- Ora... Outro menino?!
- Não, é uma linda rapariga! – respondeu a mulher enquanto voltava a correr na direção da escadaria – Vamos!
Assim que a criada pôs-se a seguir os passos da outra, o pequeno Lohan impediu-a, segurando a moça pela barra de sua saia. Ela olhou atentamente para o garoto e depois sorriu dizendo:
- Talvez o jovem amo deseje conhecer a irmã?
A criada então levou o menino consigo. Quando ambos chegaram ao quarto, Anna estava na cama, agora descansando de uma grande exaustão, porém estava aliviada, pois afinal o parto ocorrera bem sucedido e a criança nasceu uma menina, assim como desejava.
- Lohan está aqui?! – surpreendeu-se ela ao notar a presença do primogênito.
- Sim... Ele quis muito vir minha senhora, então eu o levei comigo.
- Ah... Não se preocupe Jasmine! Apenas não esperava vê-lo aqui, ainda mais com essa expressão tão ansiosa.
Nesse instante, uma das criadas já retornava com a criança nos braços, agora estando esta embrulhada em muitos tecidos que pareciam aquecê-la bastante. A mãe segurou-a com cuidado e esforço, não ficaria muito tempo com a menina, pois depois de um parto difícil ficara cansada demais para dar toda a atenção que gostaria de dar a sua filha.
- Venha Lohan... – dizia Anna gentilmente ao garoto para que este se aproximasse – Venha conhecer sua irmã.
A princípio Lohan teve receio em se aproximar, mas logo deu singelos passos até a mãe. Assim que parou ao lado da cama, Anna o aproximou da criança. O garoto se pôs mudo e impressionado. Sua irmã estava lá, tão pequena e indefesa, com a pele ainda vermelha e os olhos bastante esticados. Mas para ele, aquela havia sido a coisa mais bela que já vira até então.
- A senhora já sabe o nome da menina? – perguntou Jasmine.
- Leesliel... Ela vai se chamar Leesliel.
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Sonnoria é o Imperador do Tempo e das Dimenções. Todos alegam nunca o terem visto. Na verdade, tampouco conhecem seu gênero. Seus representantes são seus quatro ditos filhos: Ccielo, Astar, Jilleon e Lunar. Não se sabe qual deles é o mais velho, mas se sabe que Lunar é a única do gênero feminino.
Ulquiorra Schiffer não compreendia o que fazia naquele lugar. Estava com sua forma de Arrancar, e também com a vestimenta de um Espada. O número quatro em seu peito, porém, não mais existia.
O espaço era um branco total, o nulo, o vazio. Na verdade, outra dimenção. Os quatro representantes de Sonnoria tinham formas semelhantes à dos humanos, mas portes de deuses. Trajavam vestes bem detalhadas, que lembravam a nobreza do Oriente médio. Estavam sentados a sua frente em quatro tronos paralelos. Todos mantinham os olhos fechados e uma elegante postura de verdadeiras entidades.
O ex-Arrancar não sabia quem era quem. Para ele toda a história de Imperador e quatro filhos não passava de lenda. O antigo espada esteve inexistente em um vazio obscuro, onde não havia tempo nem mundo. Era o nada completo. Não dava para dizer quantos anos se passaram, até mesmo porque cada segundo deveria representar qualquer outro valor temporal, exceto um segundo.
Mas nada mudava o fato de que alguma coisa estanha acontecia. No contrário ele ainda estaria submerso naquele abismo infinito, e não numa sala em outra dimenção, encarando quatro seres lendários. O que Sonnoria queria com ele?
- Ulquiorra Schiffer, ex-Espada, ex-Arrancar, ex-Hollow, ex-Existente... – dizia um dos irmãos com uma voz que ecoava por aquele grande espaço vazio – Assim que uma "vida" deixa de existir por completo, ela perde qualquer denominação já obtida um dia.
- Convocamos sua presença... – falava agora uma voz suave cujo portador certamente era uma mulher – Para lhe oferecer um novo rumo. Na verdade, uma nova existência.
Apesar de muito inesperado e inacreditável, aquilo era real. De alguma maneira ainda incompreensível, Sonnoria tinha tal poder.
Para Ulquiorra era uma proposta interessante. Uma tarefa que ele não poderia negar cumprir, em troca de uma nova forma de existência que o próprio escolheria. O único problema era a tal tarefa, pois esta só seria revelada depois que o trato estivesse feito.
O ex-Arrancar hesitou algumas vezes, mas, no fim, aceitou.
- Retornarei como o mais poderoso e imponente Vasto Lorde. O verdadeiro Imperdador do Hueco Mundo, assim como Sonnoria Impera sobre o tempo e as dimenções. – foi o que ele exigiu com seu olhar inanimado de sempre, embora o tempo aprisionado no vazio o tenha deixado mais ambicioso.
Os quatro irmãos se entreolharam brevemente, e em seguida acenaram de maneira positiva.
- Assim será. – afirmou outra voz – A partir de agora sua decisão não poderá ser alterada ou anulada. Seja qual for sua missão, terá que cumprí-la com êxito. No contrário, sua existência será outra vez aprisionada no vazio.
- Nós estaremos lhe observando. – concluiu a voz feminina.
Aquelas orbes esmeraldas apenas centraram o olhar. Sua expressão não demonstrou qualquer sinal de dúvida ou ansiedade a respeito de sua enigmática missão. Em verdade, e como sempre, Ulquiorra nada demonstrava em sua face.
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Tokyo, dois dias depois (10 dias para a morte de L).
- Tem algo que me intriga muito... – dizia L a si mesmo, enquanto observava algumas folhas – Todos os nomes que foram escritos no caderno, são de criminosos que realmente morreram. Aproximadamente 70% desses criminosos são orientais. Mas o problema é que... Uma quantidade muito superior a de 30% de condenados morreram no resto do mundo. Coincidência talvez? Números? Criminosos morrem de qualquer forma, mas... Muitos e muitos outros, de ataques cardiácos, suicídios ou formas totalmente inusitadas. É estranho...
Instantes depois o interfone tocou. L se levantou lentamente da cadeira e foi atender:
- Moshi-moshi?
- HIII!! – respondeu uma voz feminina bastante empolgada – O Senhor é o L?!
L a princípio se surpreendeu e não soube como responder. Deve provavelmente ter pensado algo como "quem é essa louca?", então viu as imagens da câmera da entrada e olhou atentamente para a garota. Após uma breve pausa, falou:
- Quem é você?
- Ah... Desculpe-me. Eu devo tê-lo assustado. Deixe-me entrar que eu lhe explicarei tudo. Não se preocupe, se o Senhor quiser colocar uma máscara ou falar comigo escondido, eu não me importo. Também o Senhor não deve estar sozinho e todo o local deve ser monitorado por câmeras e escutas, certo? Eu não me atreveria a tentar algo nessas circunstancias, mas não posso falar nada aqui, ou correremos o risco de que alguém escute... E, além disso, o Senhor precisa me ver para sentir confiança... Afinal eu não tenho nenhuma má intenção. Ah... Desculpe, eu falei demais!
- Está tudo bem. – disse L calmamente – Entre. Afinal a Srta já foi descuidada falando tudo isso...
- Oh my... Desculpe-me.
A garota era a mesma que aparecera em Londres, Lucy. Ela estava bem arrumada, com um vestido tomara-que-caia curto e rosa, e mais uma vez com sandálias de salto-alto. Entrou no elevador e subiu até o andar do escritório de L, seguindo as coordenadas deste. Assim que saiu do elevador, L já estava a sua espera.
Ao se encontrarem, ambos se surpreenderam. Olharam-se um ao outro dos pés a cabeça. E L foi quem deu a primeira palavra:
- O que... Alguém como você faz aqui?
- "A... A-Alguém como eu"? Co... Como assim?
- Se veio fazer propaganda de casa noturna, eu dispenso.
Lucy se surpreendeu com o comentário e a princípio não pôde entender até olhar para as próprias roupas e perceber que deveria estar "arrumada" demais. Mas não era pra tanto, o detetive estava apenas brincando com ela, que em realidade estava linda.
- Ah... – Lucy ficou vermelha de vergonha, se virou para o elevador e entrou – Desculpe, eu volto outro dia...
- "Outro dia" talvez não exista – disse ele impedindo.
A garota parou, refletiu por dois segundos e depois se voltou para L.
- Por que diz isso? O Senhor está a caminho da morte? Também é mesmo estranho que não tenha se importando em me receber, e nem sequer está disfarçado.
L deu uma breve pausa antes de falar:
- A Srta é estrangeira, não é? Apesar de leves traços orientais... Uma mestiça?
- Sim... Eu acho...
- "Acho"?
- Ah, é uma longa história... Não vem ao caso falar disso agora. Tenho algo importante a comunicar.
- Então venha comigo.
Ao entrar no escritório, Lucy pareceu se sentir mais a vontade. Zelfa se posicionou em um dos cantos do local e apenas ficou observando, L não podia vê-lo.
- A Srta Ainda não me disse o seu nome. – falou L.
- Nossa, é mesmo! Sinto muito... É que eu sou um pouco distraída. Me chame de Lucy. – disse ela sorrindo.
- "Lucy"... Esse é mesmo o seu nome?
- Não. Ou melhor, não sei... Talvez seja.
- Srta. Lucy... Vou exigir que me explique isso direito, mas antes... Deseja alguma coisa? Água, café, chá...
- Bem eu... Talvez seja um abuso da sua boa vontade, mas... Eu daria tudo por algum doce. – disse ela sorrindo outra vez.
L ficou ainda mais surpreso. Após algum instante disse:
- Doce é? Aqui não falta...
Já estavam os dois sentados na mesa, ambos comendo doces. Ele comia algum tipo de mousse e ela um pedaço de bolo.
- O Senhor tem mesmo um ótimo gosto para doces... Está uma delícia!
- Sim... Eu faço encomendas diárias. Mas voltando ao nosso assunto de antes... Por que nenhuma de suas respostas é concreta? A Srta não sabe se é ou não mestiça e também não sabe se Lucy é ou não um pseudônimo. Ou a Srta está tentando fazer mistério ou...
- Perdi a minha memória. – interrompeu ela de forma direta.
- Desde quando? – ele perguntou intrigado.
- Não me lembro de nada anterior aos três últimos anos. Não sei de onde vim, não sei quem eu sou... Não sei sequer a minha idade.
L deu uma breve pausa enquanto a observava e depois começou a dizer:
- Sua idade não é difícil descobrir com simples exames em laboratório. Sua identidade pode também ser descoberta com amostras de suas impressões digitais.
- Eu já tentei fazer isso. Não constou nada arquivado. É como se eu nem existisse. O teste da idade eu não pensei em fazer. Mas incrivelmente eu tenho uma grande base de conhecimentos gerais e acadêmicos, assim como também falo fluentemente oito idiomas. Tenho facilidade com todos então é difícil definir qual é o da minha terra natal. Minha memória teve início há três anos, na Inglaterra. Mas isso não significa que eu seja realmente inglesa.
- Isso é mesmo muito estranho. Não constar nenhum dado nos arquivos civis... Indica que eles foram apagados, ou você era uma indigente que nunca teve um registro. Mas se a Srta veio me procurar para resolver o seu caso, sinto muito, mas não sou um detetive particular. É melhor que procure...
- Não se precipite, por favor. Não tenho tanto interesse assim em desvendar o meu passado, se não eu teria apelado para recursos como terapias de transgressão. A verdade é que eu tenho medo, então acho melhor deixar as coisas como estão. Tudo o que eu consegui nesses três anos foi andar como uma ilegal. Tenho passaportes e documentos falsos e todo dinheiro que eu consigo é trabalhando como uma modelo fotográfica de uma empresa pouco conhecida na Inglaterra. Ninguém sabe nada sobre mim. Bom... Se nem eu sei.
- Nunca descobriram que a Srta usa documentos falsos?
- Não. É que na verdade não são falsos perante a lei. Porque eu... Invadi o sistema civil de registros e identificações e inclui todos os meus documentos como sendo legais e oficiais.
- Uma hacker?
- Não é o meu trabalho, mas foi o que eu fiz. É... O Senhor terá que me prender?
- Esse não é um trabalho meu. Mas a Srta me parece uma caixinha de surpresas. Uma garota bastante extrovertida, mas também dotada de um grande porte intelectual. Assim fica difícil adivinhar o que está pensando ou tramando.
- Se está se referindo ao real motivo de minha visita... Não precisa se preocupar com isso. Agora serei direta... Estou aqui devido ao caso Kira e o Death Note.
L entrou em choque de tão surpreso, e mesmo após um instante tudo o que fez foi manter o silêncio. Lucy, ao perceber sua perturbação repentina, continuou:
- Ah... Talvez eu também deva... – dizia ela enquanto retirava algo da bolsa – Talvez eu também deva lhe mostrar isso.
Lucy colocou sobre a mesa um caderno branco semelhante ao Death Note.